TASHKENT, UZBEQUISTÃO - Um grupo de jovens que chama atenção com seus
rostos pálidos, maquiagem pesada, cabelos tingidos de negro, cruzes e
caveiras - os góticos - afirma estar sendo vítima de perseguição no
Uzbequistão, e alguns dizem que estão sendo forçados a deixar o país.
Desde a profanação de um túmulo no cemitério da cidade de Tashkent, a situação teria se agravado.
De forma menos direta, a imprensa oficial do Uzbequistão também vem
apertando o cerco, classificando a cultura ocidental de "imoral".
Estilos musicais como rap, rock e heavy metal foram classificados de
"música estranha" e alguns chegaram a ser proibidos.
Dois góticos foram presos, embora o grupo negue veementemente qualquer envolvimento no caso.
As autoridades uzbeques foram contactadas pela BBC, mas não responderam às perguntas sob a alegação de que a empresa não está autorizada a trabalhar no país.
A tribo está presente nas ruas da capital uzbeque desde a década de 90, e
chama atenção não só pelo visual, mas pelos adereços de influência
cristã, como cruzes e pingentes - pouco comuns no país asiático de
maioria muçulmana.
Respeito aos túmulos
Os góticos também
admitem ter uma predileção pelo cemitério cristão de Tashkent, fundado
em 1872. Para eles, a mescla de tranquilidade, clima romântico e, de
certa forma, morbidez que encontram em Botkin é irresistível.
"Gosto de passear com meus amigos pelos caminhos do cemitério cheios
de folhas e sombras, admirando as esculturas antigas e discutindo arte
gótica", afirma Leticia, uma das poucas góticas que continua na
capital. "Nós temos respeito pelos túmulos, até romantizamos a morte",
diz ela.
Mesmo assim - ou talvez por isso -, a polícia logo deteve dois jovens
góticos pouco depois de descobrir a profanação de sepulturas no local.
Os góticos acreditam ser cerca de 200 em todo o país, que tem uma
população de 30 milhões. Eles se conhecem nas páginas virtuais do
Facebook, onde a maioria adota o sobrenome do maior ídolo gótico atual
no Uzbequistão, o cantor americano Marylin Manson.
A BBC conversou com Leticia, seu amigo Gotya e outros
góticos em um bar nos arredores da capital, o atual ponto de encontro
dos góticos. No entanto, temendo problemas com as autoridades, a
gerência pediu que o nome do local não aparecesse na reportagem.
Eventos góticos que antes reuniam até 300 pessoas agora dificilmente ultrapassam 20.
Entrada proibida
Os góticos também
costumavam se reunir na única igreja católica de Tashkent, mas agora
estão proibidos de entrar lá. Eles contam que sentem uma pressão
crescente, não só das autoridades, mas da sociedade, que estaria sendo
influenciada por uma "campanha" também na imprensa.
A banda local predileta dos góticos, Festa Martyria, teve todos os
shows cancelados desde o ano passado. Agora, os jovens temem que o
governo use o episódio da profanação de túmulos como pretexto para
proibir oficialmente o movimento gótico no país.
A pressão é ainda maior em jovens de famílias muçulmanas que adotam o
visual repleto de cruzes e caveiras. Dilshod, de família islâmica e
ex-integrante da banda de heavy metal The Rebels, por exemplo, afirma
que a pressão sobre a cultura alternativa acabou levando ao fim do
grupo. Alguns dos amigos dele chegaram a sair do país. Ele também
planeja estudar no exterior.
'Imoralidade'
A imprensa uzbeque já afirmou
que a cultura ocidental incentiva a "imoralidade" e estaria "causando
danos às tradições e valores nacionais".
A televisão oficial russa, popular no Uzbequistão, chegou a levar ao
ar um programa em que associava góticos e canibalismo. O clima nem
sempre foi tão repressivo. Os mais velhos dizem que na época da União
Soviética, várias "tribos" pipocaram no país.
A mãe do gótico Gotya costumava lhe contar como Tashkent era
cosmopolitana, um caldeirão de culturas em que russo, armênios e judeus
coexistiam pacificamente. Com o nacionalismo crescente após a queda da
União Soviética, muitos deixaram a cidade. "No passado, havia vários
góticos, punks, satanistas e roqueiros por aqui", disse Gotya.
Por isso, enquanto as "tribos" alternativas encontram dificuldades no
Uzbequistão, Gotya, Leticia e outros jovens pensam em buscar abrigo em
países vizinhos como a Rússia ou a Polônia.
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