SUPER MATERIA= Treibhaus:a casa gotica seminal no periodo de 1989 a 1991

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010.




Por meio de entrevistas e depoimentos, conheça o primeiro espaço da noite paulistana que reuniu um público denominado gótico.

Por Andréa Foroni – especial para o Gothic Castle

Numa época em que a internet com o seu poder inigualável como ferramenta de comunicação estava muito longe de surgir, a casa noturna TREIBHAUS, fundada em 1989 (fechada dois anos depois), serviu como um ponto de encontro de jovens que desejavam construir a sua própria identidade, em um período em que o país ainda sentia o medo das baionetas do opressivo regime militar.

“Aparece então uma tribo que não tinha obrigatoriamente que se ligar a ideologias ou pseudofilosofias de vida para se divertir. Queriam apenas ouvir música, dançar, beber e fazer amigos. Como adolescente, achei que os lugares da moda não eram desencanados o suficiente, nada melhor então que criar um espaço adequado” - relembra um dos proprietários da casa, Alex Nogueira.

Porém, Nogueira não imaginava que, além de proporcionar momentos de diversão e entretenimento, o pequeno sobrado que ocupava a casa, no bairro dos Jardins na cidade de São Paulo, marcaria um dos capítulos mais importantes da história do cenário alternativo, por ser o primeiro espaço paulistano a reunir um público denominado gótico. “A Treibhaus foi um divisor dos tempos. Um espaço avantgarde onde se diluiu as tendências na evolução do dark para o gótico. O primeiro lugar – assumidamente –gótico. O lugar onde eu e alguns amigos divulgamos para o Brasil (e pela primeira vez) o termo punk gótico.” afirma o assíduo freqüentador, Marcelo Vilela de 34 anos.



Na primeira entrevista a seguir, o fundador Alex Nogueira conta o que rolava no cenário alternativo nacional no final dos anos 80 e fala sobre os bastidores da Treibhaus:

Andréa Foroni - Como surgiu a idéia de criar a Treibhaus?
Alex Nogueira - Final da década de 80, terminara o ‘boom’ de novas bandas, principalmente no eixo São Paulo-Rio-Brasília, poucas sobraram, mas o germe estava plantado e nunca mais parou de crescer. Sabíamos agora que havia ‘vida inteligente’ no rock. Termos como punk-rock, positive-punk, dark e new-wave, passaram a fazer da parte do vocabulário nacional. Neste momento, entramos no primeiro mundo em matéria de música alternativa. Primeira conseqüência disso: casas noturnas, para quem gostava desse tipo de som, começaram a parecer. Segunda conseqüência: selos para lançar bandas daqui e de fora, baratearam a aquisição, antes restrita aos importados (caríssimos) e aos piratas (geralmente de péssima qualidade). Muito se falava nos meios especializados, mas as pessoas queriam conhecer mais, ouvir mais, dançar mais... Algumas casas noturnas começaram a surgir, geralmente misturando música, artes plásticas e cênicas, drogas e muito visual. Começaram com as grandes, como Rádio Clube, Radar Tantã, AeroAnta, Madame Satã e muitas outras. Surgiram também os inferninhos: Anny 44, Espaço Retrô, Antro, Ácido Plástico e Carbono 14, entre outras. O problema da maioria dessas casas é que se achavam sérias demais e tinham a obrigação de ser emblemáticas de certas tribos ou transgressoras dos costumes. Aparece então uma tribo que não tinha obrigatoriamente que se ligar a ideologias ou pseudofilosofias de vida para se divertir. Queriam apenas ouvir música, dançar, beber e fazer amigos. Como adolescente achei que os lugares da moda não eram desencanados o suficiente, nada melhor então que criar um espaço adequado.

Andréa Foroni - Foi muito difícil encontrar aquele sobrado na Alameda Jaú, em São Paulo? E por que na região dos Jardins?
Alex Nogueira - Foi sim. Rodei muitos bairros procurando um local sem problema com barulhos, com aluguel barato e onde pudesse fazer ‘o que bem entendesse’. Quando achei, o local era uma sauna que foi fechada por inúmeras irregularidades, o imóvel estava praticamente condenado. Nos Jardins, bem....foi só pra incomodar o "stabilishment".

Andréa Foroni - Qual era a proposta da Treibhaus?
Alex Nogueira: Inicialmente, pura diversão.

Andréa Foroni - Quantos sócios existiam, qual a idade de vocês na época e o que faziam profissionalmente, além de gerenciarem a casa?
Alex Nogueira: No começo éramos eu e o Paulo Pato. Trabalhávamos juntos como técnicos na Fepasa. Nós mesmos fizemos muita coisa na reforma. Depois entrou o Jefferson Ferraro, que, se não me falha a memória, também era técnico de eletrônica. Algum tempo depois comprei a parte do Paulo e assim ficou até o fim. Tínhamos cerca de 20 anos.
Andréa Foroni - A Treibhaus foi baseada em alguma casa noturna do exterior, ou em quê?
Alex Nogueira - O nome veio do livro ‘Christiane F. ,13 anos, drogada e prostituída’, onde freqüentavam um porão chamado "Treibhaus" (estufa, em alemão) e a idéia e inspiração do lugar surgiram a partir do filme "Fome de Viver" e os três ícones desta geração: David Bowie, a banda Bauhaus e vampirismo.
Andréa Foroni - No começo, a Treibhaus era uma casa seletiva. Qual critério era utilizado para entrar nela e possuir a carteirinha vip com cinco caveirinhas?
Alex Nogueira - A princípio o visual, depois, conforme conhecíamos as pessoas, abrimos um pouco o leque, pois nem todo alternativo se veste de preto.
Andréa Foroni - A Treibhaus se tornou atemporal e sem dúvida entrou para a história. Em 1989, você tinha alguma noção desse êxito?
Alex Nogueira - Nenhuma, ainda hoje me surpreendo com as opiniões das pessoas. Demorou algum tempo pra ‘cair a ficha’.
Andréa Foroni - Como era planejada a grade da programação cultural? E, como conseguiu juntar um acervo de vídeos tão raros?
Alex Nogueira - Dj´s queriam tocar para um público legal, as bandas não tinham oportunidades e os artistas precisavam de um espaço. Eram as pessoas que nos procuravam. Todo dia tinha um tema, um show, uma performance, um vídeo, um lançamento, etc. Quanto aos vídeos, eu copiava tudo que aparecia, tinha coisas até em super-8, e a Omni Vídeo - tinha um acervo fantástico.


Andréa Foroni - Como era realizada a divulgação?
Alex Nogueira - Sem internet, era tudo feito pessoalmente, através do boca-a-boca e alguma coisa que acabou saindo em jornais, televisão e revistas.
Andréa Foroni - A decoração era bastante peculiar, com crânios, velas, bustos, grafites, telas e etc. Quem criava esses enfeites e como eram feitos?
Alex Nogueira: Tínhamos muitos colaboradores. Todos queriam ajudar, seja com idéias ou objetos. Vivíamos trocando a decoração, e também comprei muita coisa em casas de artigos religiosos.
Andréa Foroni - Qual lugar da casa era mais inspirador? Por quê?
Alex Nogueira - O bar mudou de cara e local muitas vezes, a sala de vídeo foi uma piração, mas o banheiro era "O" lugar, as histórias mais engraçadas ocorreram lá. Ah! E a escada caracol era um ‘playground’...
Andréa Foroni - Os flyers eram a marca da Treibhaus. Muitos freqüentadores guardam até hoje. Muitos usavam suas mensagens e poesias. Como eram confeccionados? Em que foram inspirados?
Alex Nogueira - Tudo era feito à mão, com recortes de livros, revistas, desenhos e decalques. Copiava textos ou inventava. Depois rodava em off-set. Todo dia tinha um tema diferente, um nome esdrúxulo ou uma festa.

Andréa Foroni - Como foram inventados os drinks exclusivos da casa. Qual o nome deles? Cite a receita de algum.
Alex Nogueira - Vai saber! Só bêbados pra inventar drinks como: ‘Porra’, ‘Mata-Basfond’, ‘Anaconda’, ‘III Reich’ (meu favorito, com gim e ‘curaçao blue’). O ‘Muro de Berlim’ fiz com bebidas que estavam encalhadas!

Andréa Foroni - Sexta Feira, 18 de Maio de 1990 – 10 years without Ian Curtis. Noites como esta nos acompanha pela vida toda – conte uma noite inesquecível.
Alex Nogueira: Minha banda favorita ainda é Joy Division. Nessa noite, rolou tudo que possa imaginar com Joy e New Order. Lembro uma vez em que a banda ‘Símbolo” tocou, tinha gente ‘saindo pelo ladrão’, deu muito trabalho. O Marcelo Vilela (freqüentador) conta uma noite legal, em que várias pessoas tiraram a roupa

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