Subcultura Gótica: sempre nova/ Por Henrique Kipper

domingo, 5 de junho de 2011.

“Longe dos holofotes da mídia de massa, a subcultura Gótica seguiu sua evolução e renovação natural desde o final dos anos 80, incorporando novos elementos ao longo dos anos 1990 e 00 do século XXI. Essa evolução é coerente com sua origem, mas não é revivalista.” 


A moda – ou estilo subcultural (1)- das subculturas tem um ritmo de evolução e estrutura diferente da moda dos mercados e mídias de massa. Além disso, as subculturas(2) tem sua própria rede de micro-mídia e micro-comércio, que a sustenta e viabiliza.

A moda e o estilo subcultural tem uma estrutura e ritmo de evolução parecido com aqueles das modas de culturas antigas que estudamos na moda histórica. Culturas mais antigas tinham um estilo integrado ao todo de seu sistema cultural, e os estilos mudavam lentamente. Mesmo apesar da moda subcultural dialogar com a moda da cultura hegemônica em que se insere, seu ritmo de atualização segue uma coerência interna. 

 Esse é um dos motivos pelo qual a mídia de massa não consegue acompanhar a evolução de algumas subculturas, apenas coletar, periodicamente, elementos isolados delas. Também, para o ritmo acelerado do mercado - com sua obsolescência e insatisfação planejados- acaba parecendo que as subculturas são estáticas. Um bom exemplo disso é a relação da mídia musical de massa com a subcultura Gótica e sua produção musical. 

      Quando emergiu nos anos 80, a produção musical Gótica recebeu os holofotes da mídia musical (na época a MTV e os vídeo-clipes eram novidades). Bandas Góticas tinham seus vídeos veiculados pela TV e suas músicas eram tocadas nas rádios AM e FM. Por isso algumas bandas Góticas dos anos 80 são populares entre o público não-gótico que aprecia a música pop dos anos 80. Porém, a indústria musical precisa periodicamente descartar a moda anterior para iniciar a venda de coisas novas. Se não existir algum movimento cultural natural para ser aproveitado, algum novo é criado artificialmente.  


  Porém, quando se trata de subculturas surgidas por motivos sociais e históricos, que não surgiram motivadas pela mídia de massa, muitas vezes elas não acabam após o interesse da mídia de massa se voltar para a nova “novidade nova”. Algumas modas se tornam culturas revivalistas, (a Hippie é um caso), mas outras continuam sua evolução natural, pois seu contexto histórico e social permanece.

Desde o final dos anos 80 a mídia de massa se voltou para outros estilos que foram comercializados por seus “15 minutos”: o funk-metal, o grunge, o brit-pop, o heroina-chic, as boy-bands, as divas, o gothic-metal (variante da cena metal, não da gótica), o emocore...e assim continua e continuará.

Porém, enquanto a mídia de massa olhava para outro lado, a subcultura e o estilo Gótico continuaram sua evolução e renovação estilística, com cenas subculturais pelo mundo todo. Exatamente no começo dos anos 90 acontecem as primeiras edições do que é hoje o maior festival Gótico do mundo: o Wave Gothic Treffen, em 2011 na sua vigésima edição anual. Outros se sucederam em vários países do mundo. Nos anos 90 também tivemos uma diversificação dos estilos musicais usados pelas bandas Góticas. Também com o boom da internet nos anos 90, as cenas Góticas do mundo inteiro encontraram um meio de consolidar suas micro-mídias e micro redes de comércio e relacionamento. A subcultura Gótica entra no século XXI de vento em popa, renovada, criativa e diversificada, apesar de completamente ignorada pelas mídias de massa.

Periodicamente a mídia de massa procura o Gótico “onde o deixou” no final do anos 80, e acaba encontrando alguma outra coisa naquele lugar, pois o “Gótico” já saiu andando daquele lugar há muito tempo, seguindo sua evolução natural. 


Outro problema da mídia musical de massa é que ela pensa só do ponto de vista musical. Como a subcultura Gótica é muito diversificada musicalmente, em geral os críticos musicais não conseguem acompanhar a diversidade de estilos musicais. O Gótico é uma subcultura com produção músical, não apenas uma cena musical. Por isso é comum críticos musicais cometerem o erro de ficarem procurando “novas bandas parecidas com as bandas Góticas dos anos 80”. É exatamente o que acontece agora com a revival comercial de bandas de estilo “pos-punk Gótico”anos 80. Da mesma forma que durante a moda Grunge qualquer coisa que soasse vagamente como Nirvana ganhava destaque na mídia, qualquer coisa que soe vagamente como Joy Division ou Siouxsie ganha seus 15 minutos de fama. 

Enquanto isso as bandas Góticas e darkwave atuais desenvolvem estes mas também muitos outros estilos musicais, e vão continuar fazendo isso depois que a atual moda revival anos 80 passar. Tem sido assim nos últimos 20 ou 30 anos. O mesmo vale para o estilo de indumentária e visual em geral: o estilo subcultural Gótico vem ao longo das últimas três décadas resignificando novos elementos que são incorporados ao sistema estético Gótico, da mesma forma que outros estilos musicais foram e são também absorvidos.

Longe dos holofotes da mídia de massa, a subcultura Gótica seguiu sua evolução e renovação natural desde o final dos anos 80, incorporando novos elementos ao longo dos anos 1990 e 00 do século XXI. Essa evolução é coerente com sua origem, mas não é revivalista. Uma comparação poderia ser feita com o estilo e cultura dos brasileiros do século XVIII ou XIX com os brasileiros atuais. Traços essenciais dos brasileiros de dois séculos atrás permanecem de forma que conseguimos identificar a ambos culturalmente como brasileiros, mas inúmeros elementos foram incorporados posteriormente como genuinamente brasileiros: sem falar em evolução tecnológica, basta citar o futebol e o carnaval na forma do século XX.

Assim, como qualquer cultura viva, a subcultura Gótica continua sempre mudando de forma coerente e incorporando novos elementos que são resignificados. Apenas culturas mortas permanecem iguais. Culturas e subculturas vivas nunca estão prontas.

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